quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Crítica: Chak De India


Oi pessoal!

Depois de ver alguns filmes indianos (alguns muito, muito bons outros bem fraquinhos), resolvi fazer a crítica do único que é obrigatório pra todo mundo. Sei que alguns que frequentam meu bloguinho não terão paciência para ver as danças coreografadas, as declarações de amor em meio às lágrimas e toda a breguice apaixonante do gênero. Sendo assim, convido a todos a ver um filme que não tem nada disso, que é muito bem feito e está repleto de coisas que amamos ler nos nossos mangás de esporte (ou não) favoritos: amizade, determinação e espírito de equipe. Isso tudo e mais é Chak De! India.


Sinopse do filme no estilo Tabby-chan:

“Kabir Khan (interpretado por Shahrukh Khan, que está em seu melhor visual nesse filme, conseguindo até ficar super-pegável) defendeu as cores da Índia no time nacional de hockey na grama, mas acabaram levando ferro na final contra o Paquistão (aí sacaneou, né?). Flagrado num momento fair play com outro jogador, Kabir foi acusado de vender o jogo e tratado como traidor (crueldade, você pensou, mas o que o nome Felipe Melo ainda te causa?). Sete anos depois Kabir volta à cena do hockey, mas como o treinador do absolutamente desacreditado time nacional feminino. A partir daí, as 2h e 40 min do filme passam voando...”

Eu sempre gostei de filme de esporte (e mangás também). Nem sei quantas vezes já assisti Coach Carter, que mistura dois gêneros que adoro: esporte e professor. Mas a maioria deles é com homens. De cabeça me lembro de “Driblando o destino”, alguns com cheerleaders e patinação no gelo (se alguém lembrar mais alguns, me avise). Mas esses que me lembrei costumam focar em situações alheias ao esporte, o relacionamento familiar, entre namorados, disputas de egos e em muitos deles as cenas da competição ficam em segundo plano. Em Chak De! Índia o foco é, como já diz no pôster, vencer. O filme se divide entre os treinos, a competição e tudo que os levou até ali. É claro que os conflitos de cada um acabam aparecendo, mas a questão principal, o jogo, as dificuldades, se sobressaem.

 As melhores jogadoras da India

Chak De! Índia (que significa Vai! Índia) é um filme para todos, mas especialmente as meninas vão se identificar. Você que viu a novela Caminho das Índias sabe o quanto a cultura daquele país é machista. As boas moças indianas tem que ficar em casa, não há espaço para elas nos esportes. Isso é dito com todas as letras durante o filme. Ninguém acreditava nas atletas, nem mesmo seus familiares e namorados. Acompanhamos a verdadeira luta para a simples existência do time. Em uma cena em particular, as garotas são obrigadas a jogar contra um time masculino e a preleção do técnico antes dessa disputa (tratada como uma forma de humilhar ainda mais as moças) faz inflar dentro de nós mulheres aquela vontade de pegar também em um bastão e sair por aí exigindo nosso espaço! XD  

 "Presta atenção, gente: cada uma vai tentar achar legenda para Don 2, ok?"

Algo que fica muito claro no filme foram as diferenças que existem em cada região da Índia. Nós aqui no Brasil não sabemos o que é olhar alguém e imediatamente saber de onde essa pessoa veio. Somos todos muito parecidos em nossa miscigenação e mesmo com pequenas rusgas entre nativos de algum estado, quando chega a Copa, somos todos brasileiros. Lá não é bem assim. Existem diferenças inclusive físicas entre as pessoas e foi complicado para o técnico Kabir fazer aquele grupo ir além dessas divergências e se unir como um único time. Mas a cena que marca essa união forjada no suor, na luta e debaixo do calor de rachar é ótima.

 Técnico Kabir sabe ser grosso mostrando o muque

Caso você esteja pensando que o filme é mais do Kabir do que das atletas, está enganado. Toda história do técnico, do céu ao inferno, se entrelaça com as histórias das jovens, todos ali tentando provar que são mais do que o mundo disse que eram. Algumas jogadoras se destacam como a troglodita Balbir (que mostra a violentíssima Argentina quem tem o pau na mão), a espevitada Komal, a talentosa Preeti (que tem o pior namorado do mundo) e a mais encrenqueira de todas, Bindia. O técnico Kabir é a cola que une todo o time, que ama seu país e acredita nas garotas, sempre exigindo o melhor delas. A história dele é muito triste, me fez pensar em quantas vezes já crucifiquei jogadores e técnicos, sem pensar que eles também têm família, vida e que às vezes dar tudo de si ao seu país não é o suficiente.

 Tá, admito: dava uns pegas no Shahrukh!

Já vi alguns filmes com o Shahrukh Khan e acredito que esse seja um dos seus melhores papéis. Ele não canta nem dança (coisa que ele faz muito bem, diga-se), mas está muito verdadeiro como o sujeito que perde tudo e se agarra num time mambembe e desacreditado para continuar vivendo. Mas quem for ver o filme, fique sabendo que SRK (é muita intimidade com os astros de Bollywood) é uma estrela de primeira grandeza na Índia, do tipo que nem consigo imaginar. Cinema é o único entretenimento do país, cuja indústria cinematográfica produz centenas de filmes por ano. Se você é o mais bem pago e está nas listas de favoritos de todos, ser chamado de King Khan não é nada demais.

 "Vamô lá, galera! Vamos correr pra comentar esse post!"

Quando o filme terminou e as emoções das cenas finais ainda estavam na minha cabeça, pensei que este filme poderia ser facilmente refeito no Brasil, mas com futebol feminino. As dificuldades com patrocínio, o preconceito, a falta de apoio e a falta de compreensão estariam todas ali, sem precisar trocar nem os diálogos. A realidade desse filme não é uma ficção para nós, infelizmente. Quem sabe se um “Vai! Brasil!” não poderia ter por aqui um efeito parecido com o que aconteceu na Índia, com uma explosão do hockey entre as meninas. Seria a glória ver um time de jovens atletas influenciadas pelo filme arrasando nas próximas olimpíadas.  

Cotação do Blog:

3 comentários:

Valéria Fernandes disse...

Tabby, estou com o filme no meu HD. Questão de honra assisti-lo depois de sua resenha. Amei, amei! Vamos ver se eu choro no final. :D

Aliás, falando em situações semelhantes, já assistiu Princess Nine? É sobre garotas japonesas que querem jogar baseball e chegar ao Koshien. Eu amo esta série e tem umas cenas assim anime bem "old style" (*a série faz homenagem à Ace Wo Nerae e outros*) que são de arrepiar... O último capítulo é um pouco brochante, mas não tira o brilho da coisa.

Tabby Kink disse...

Oi Valéria! Que bom que gostou da minha resenha! O filme é muito legal mesmo, mas eu não chorei no final. Mas eu também não derramei uma lágrima com Titanic, enquanto as pessoas saíam desidratadas do cinema... XD

Não conhecia Princess Nine, mas vou procurar, parece bem bacana! Valeu!

Rafi disse...

Muito, muito legal mesmo esse post. Acho que nada no mundo tem o mesmo poder de união que o esporte. A gente pode aprender as lições mais importantes da vida praticando uma atividade esportiva. Principalmente em grupo. Não sou atleta, longe disso. Mas procuro observar. Um esportista acaba desenvolvendo, nem que seja na marra, valores como paciência, humildade, coragem e tolerância de forma muito mais intensa do que podemos imaginar. Ele precisa disso para vencer. E nós tb, claro.

Recomendo o documentário "Once Brothers", da ESPN, que conta uma história real e emocionante muito parecida com a do técnico do filme. : )