quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Mangás, editores e novos talentos


Oi pessoal!

Estava preparando um “Pra que gente?” para essa semana, mas uma ideia pintou na minha cacholinha (coisa rara aqui pro blog, um post novo é quase um parto sem anestesia peridural) e resolvi deixar a destilação de veneno pra próxima semana. Gostaria de falar um pouco sobre mangás. Esse mês chegou minha Ribon trazendo um one-shot de uma novata que mandou seu material para avaliação numa edição anterior. Peguei-me pensando nos motivos pelos quais ela foi escolhida entre as dezenas de mangás de iniciantes que devem chegar toda semana na editora. Será que eu tenho o que ela tem? E se eu tivesse a minha editora e fosse lançar uma revista como a Ação Magazine (no estilo shoujo, por favor! XD), saberia eu fazer a melhor escolha entre os aspirantes a mangakás? 

Antes de tudo, enquanto você lê esse pobre bloguinho, milhares de pessoas desenham mangás. E não me refiro aos japoneses não. Sei que algumas pessoas insistem que apenas se faz mangás no Japão, por razões nunca muito bem especificadas. A meu ver, mangá é um estilo e assim como o impressionismo pode ser copiado e assimilado. Uma vez que as regras e conceitos que regem aquele estilo são respeitados, porque não pode ser chamado de mangá? A nacionalidade (e DNA também, não sei) aqui é algo que não conta. A diferença é a bagagem cultural de cada povo. O mangá está na veia do japonês que convive com ele desde o berço. Quem já viu algum programa da NHK, por exemplo, vai perceber que para eles tudo é desenho, é representação gráfica. O Brasil nunca foi de apoiar as artes plásticas (até nossos colonizadores não tinham tradição nas artes visuais), que dirá quadrinhos. O nosso processo pode ser mais lento que o dos chineses ou filipinos, mas chegaremos lá. Estamos seguindo firmes no caminho, isso é o que importa.

 "Tenho o meu valor! Não sou pirata! Não uso nem tapa-olho, nem perna-de-pau!"

Então agora estamos lá naquele avião do filme “A Origem”, dopados e sonhando docemente. Acabei de ganhar na loteria e tenho dinheiro até pra forrar a gaiola do passarinho com notas de cem. Minha editora já tem o sugestivo nome de “Tons & Sonhos” e vou lançar minha antologia de shoujo mangá chamada “Lilás” (nome originalíssimo, diga-se). Resolvi convidar os melhores artistas que conheço, visando os mais profissionais e com mais vontade de trabalhar. Mas e os novos talentos? Terão vez? Como um editor no Brasil escolhe quem irá publicar? Que critérios ele usa? 

Quando a Tokyopop dava seus gemidos finais antes de ir pra cova, tiveram a genial ideia de lançar o livro “How to draw Shojo Manga”, originalmente publicado no Japão pela editora Hakusensha, casa de grandes revistas como a LaLa e a Hana to Yume. Corri pra conseguir meu exemplar, porque mesmo desenhando faz alguns anos, conquistado meus fãs (minha mãe, meu pai, minha avó, meu irmão e minha irmã) e já ganhado alguns trocados desenhando mangás, eu aprendi muito com esse livro. Estou sempre buscando me aprimorar, nunca é demais aprender coisas novas, ninguém sabe tudo. NINGUÉM. Se você conhece algum artista que sabe tudo, que manja tudo e tem resposta pra tudo; amigo ele é um deus ou um idiota. Segunda opção com mais de 99.99999% de chance. 

 Ótimo presente de natal para quem quer desenhar shoujo!

Voltando ao livro, caso queira desenhar lindas ilustrações em estilo mangá, ele não é para você. A abordagem vai desde algumas dicas de material (que, por favor, NÃO FAZ O ARTISTA!), passando por quadrinização e encerrando com o endereço da Hakusensha e de como você deve apresentar seu trabalho ao editor. Sim, amigos! Lá é comum mandar trabalhos e até agendar avaliações de material com os profissionais da editora. A indústria precisa ser sempre alimentada com novos talentos. Não é um favor. É como as coisas devem ser. Chamou-me muito a atenção que no livro um editor de mangás da Hakusensha disse que buscavam não apenas um bom desenho e uma história interessante, mas também um artista que pudesse crescer na editora. Eles buscam potencial. Será que eu saberia avaliar se um artista iniciante tem potencial? Obviamente que ter um desenho dentro dos limites do razoável é o mínimo. Anatomia correta e uma narrativa basicamente compreensível também. Mas como avaliar o potencial? Você saberia?

Outra prática comum (que eu seguiria na “Tons & Sonhos”) é não aceitar o artista na primeira entrevista. Ele pode ser um Akira Toriyama, mas não se dá logo uma chance ao sujeito. A razão é simples: nem todos sabem lidar com o NÃO. Muitos artistas (ou que se acham assim) se melindram fácil com críticas, tendo as mais diversas reações. Desde ameaçar o crítico com agressões (é sério) até jogar a toalha e não mais desenhar. Artista que se preze, em qualquer área, tem que saber apanhar, levar porrada e ficar em pé. Se cair na primeira bofetada, procure outra coisa pra fazer da vida, porque a tendência é lidar com trolls cada vez mais ferozes e com críticos construtivos cada vez mais exigentes. Agora imagina contratar um desenhista que no primeiro twit do @trolldapahvirada dizendo: “Sua história é uma merda!” tem um surto e larga tudo pela metade? Pois é. O NÃO é um bom termômetro. Eu que sei....

 Na esquerda a avaliação e na direita a publicação. Boa sorte!

Quando chegou a Ribon #10 de 2011, reparei que aquele desenho do one-shot estava entre as histórias submetidas à avaliação da revista, na edição #8 (como eu queria mandar uma história minha para avaliação! Eles iam me trollar muito, mas gostaria de uma opinião assim mesmo). A autora não tem aquele desenho espetacular de uma Maki Youko (sou fã), sofre algumas influências da Ai Yazawa, mas sem ser uma coisa descarada. Suas notas foram altas na avaliação da Ribon e ela conseguiu sua chance de ser testada pelo povão. Será que virá a ser uma autora famosa no futuro? Quem sabe? Mas foi interessante ver os primeiros passos de uma possível nova mangaká da Ribon. Com certeza faria isso em minha revista, dando espaço para avaliar novos artistas. Falta-me a bagagem para enxergar além de um desenho bonito (me derruba um desenho lindo, confesso), mas espero que aos editores brasileiros não. O que o pessoal da Ribon enxergou naquela moça pode (e deve) estar em muitos artistas nacionais, mas saberíamos ver? Poderíamos ir além das amizades, dos gostos pessoais, do preconceito com estilos A, B ou C? Do “nome” que alguns construíram na “terra de cego”?

Concursos de desenho são coisas cruéis e vis, mas muitas vezes é a melhor maneira de encontrar um artista. A editora espanhola Norma promove todos os anos um concurso de mangá para jovens talentos. O vencedor ganha a chance de publicar apenas um livro para começar. O resultado desse ano já saiu e confesso que rolou certa decepção. O nível dos trabalhos realmente estava meio baixo se comparado ao do ano passado. Lá no site Mision Tokyo ainda dá pra ver os finalistas. Participei ano passado e nem entre os 10 melhores eu fiquei. Foi uma boa experiência, acredito que hoje faria diferente, mas nada garante que teria chance mesmo assim. Algo no estilo da Norma é muito interessante. Um trabalho de volume único poderia ser o caminho para novos artistas aqui no Brasil.

 História vencedora do "Concurso Manga" de 2010 já em publicação pela Norma

Quando estava comemorando meu sucesso com a “Tons & Sonhos”, me vingando de todos os meus desafetos da época da escola e indo para minha cobertura tríplex de frente para o mar com meu noivo Sr. Eames, ouço aquela safada da Piaf começar a cantar! Vaca de francesa! Isso significa que logo em seguida vem o chute. Acordo tonta, revoltada, não estou mais no avião, mas num ônibus lotado em um engarrafamento na Avenida Brasil. O sonho de ter minha editora e publicar minha antologia shoujo fica pra próxima vida. Continuarei desenhando e fazendo minhas histórias, usando a internet a meu favor. Esse sonho de coordenar uma revista no estilo shoujo é lindo, mas não sei se me sairia bem. Não escalaria apenas os amigos, isso é fato. Impessoalidade é a melhor amiga da competência. Encontrar os profissionais empenhados e que deixassem o ego em casa. É... não é um trabalho fácil. 

Nossas chances de fazer nosso mercado de mangás nacionais crescer nunca estiveram maiores. Quem esteve lá no começo da febre de CDZ, quando a Rede Manchete ainda existia, sabe o quanto pipocou gente oportunista e canalha, com revistas medíocres e mão-grande no trabalho alheio. Depois desses tropeços, acho que estamos acertando o passo, com gente bem intencionada agora. Quem sabe a “Lilás” um dia se torne realidade? As chances são bem maiores que ser noiva do Sr. Eames....

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Crítica: Koukou Debut Movie


Olá amiguinhos!

Esta semana consegui assistir ao filme live action baseado no mangá de Kazune Kawahara, Koukou Debut, graças ao toque da Valéria do Shoujo Café. Resolvi falar um pouco sobre o filme, mas não acredito que conseguirei resenhar de forma tão hilária quanto a Lina Inverse, mas não poderia deixar passar a oportunidade de falar sobre esse filme, baseado em um dos meus mangás shoujo favoritos.

Antes de mais nada, precisamos dizer que em sua maioria esses filmes e doramas tem uma linguagem própria. Um jeito de atuar e dirigir que faz dessas mídias únicas. Mesmo quando o filme se propõe a ser sério, como o Tokyo Tower (que eu vi por causa do Jun Matsumoto e que não recomendo a ninguém MESMO), as atuações, as falas pausadas até as vias do desespero, as caretas e a inexpressividade são as mesmas dos filmes/doramas cômicos. Muita afetação, muito exagero, que pra quem não está preparado, pode até assustar. Claro que você não vai ver um Ken Watanabe atuar assim, mas nessas produções acho que é regra. Mas o mais incrível é que mesmo nesse oceano de atores exagerados e careteiros (o que ajuda a esconder as deficiências e a falta de talento de alguns) dá pra achar gente bem esforçada e outros... prefiro nem comentar. Diante disso, nem vale a pena dizer quem atuou bem ou não. Estavam todos no mesmo nível comum aos doramas. E pra quem gosta, como eu, tudo isso faz parte.

 Haruna e Yoh estão entre os melhores casais de shoujo que já vi!

Para situar quem não conhece o mangá, uma sinopse rápida:

“Haruna Nagashima dedicou-se muito ao softball durante o fundamental e decidiu que quando chegasse ao ensino médio, encontraria o amor. Mas Haruna é uma sem-noção, não sabe se vertir e nem se portar como uma ‘menina’, afugentando os homens. Nesse momento entra na história o belo, popular e sério Yoh, que se torna o treinador de Haruna quando o assunto é paquera. Os dois acabam se apaixonando e Haruna só precisou ser ela mesma para conquistar o rapaz mais cobiçado da escola”.

O mangá Koukou Debut é muito divertido, emocionante e tem uma arte agradável e bonita. Não vejo razão para esse material ainda permanecer inédito aqui no Brasil. O mangá é muito rico em situações engraçadas e preferia que tivesse ganhado um dorama, não um filme. A qualidade técnica é a mesma (senão pior) e tudo ficou muito condensado e corrido. A atriz que vive Haruna é simpática e a falta de noção da personagem foi à quinta potência. Algumas cenas de demonstração de força de Haruna (que não é nenhuma Mônica no mangá) ficaram beirando o ridículo e até mal feitas. O rapaz que deu vida ao Yoh ficou perfeito! Mas muitas passagens ótimas do mangá acontecem quando Yoh e Haruna já são um casal e o filme não aborda essa parte. Os outros personagens ficaram legais, embora os amigos de Yoh em nada lembrem os do mangá.

 Yoh e Haruna do filme ficaram bem parecidos, não?

Mesmo corrido, o filme colocou figuras bizarras em cenas que não tinham no material original e para mim em nada acrescentaram. Destaco em especial a cena no quarto de Haruna, atormentada pela sua consciência. Os atores que viveram o lado bom e ruim da personagem devem ser comediantes famosos no Japão (tipo a Valéria e a Janete do Zorra Total, participando de um filme da Xuxa), não há outra explicação para a existência no filme daquela gente tão tosca, bizarra e com piadas que não fizeram sentido algum! Outra coisa que quero destacar é a pobreza da cenografia. Gente, era triste. De cabeça, me lembro de cinco locações que se repetiram várias vezes. Sempre a mesma praça, a mesma sala de aula... mas acho que nada se compara à festa natalina! Qual foi daquelas centenas de figurantes vestidos de Papai Noel, girando, tocando música e sem mais ninguém por perto além dos protagonistas? Não ficou bonito, ficou ridículo!

Meu balanço final foi negativo. Os exageros que funcionaram no filme do mangá Lovely Complex não deram certo com Koukou Debut. A tentativa de fazer algo no estilo é óbvia, mas para mim não funcionou. Talvez por ser muito fã do mangá, fui mais exigente, esperava muito mais. Afinal,  Koukou Debut é exelente, merecia um filme bem melhor.  

   Esse mangá é ótimo! Recomendadíssimo!!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Novo mangá em 2012!



Oi pessoal!

Este post é pequenininho, só pra divulgar o meu novo mangá "Smells Like Mystery!!”, que sairá em 2012! Isso mesmo! Ano que vem terei um novo mangá na praça, em apenas 3 partes. Não se preocupe! Você não corre o risco de ficar sem saber o final da história, pois ela está prontinha, só esperando para ser postada em algum site (ou publicada, quem sabe?).

“Smells Like Mystery!!” é uma história de mistério e terror, mas no estilo Tabby Kink, com mais comédia e zuação que qualquer outra coisa. XD O título inusitado tem explicação: os personagens principais, os jovens milionários Christian, Arthur Homero e Bernardo pertencem à história (de romance e drama!) “Smells Like Cookie”. Daí o trocadilho. O estilo é o shoujo, claro. Por mais estranho que pareça, sinto que desde os primórdios da minha vida como desenhista no estilo mangá, sempre desenhei shoujos. Eu me diverti muito desenhando e reticulando! Espero que vocês se divirtam lendo.

Para divulgar, fiz um vídeo. Não vou revelar a origem da música, mas acho que é tão fácil que nem preciso dizer de quem é. Você consegue adivinhar? Em 2012 não perca “Smells Like Mystery!!”  

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Vamos à escola com a Ivy Club!!


Olá pessoal! O post desta semana é um post de utilidade pública. Fico fascinada com os blogs e sites que prestam ajuda aos fãs e principalmente desenhistas do estilo mangá. Tutoriais de todo tipo, ensinando a pintar, reticular, desenhar e até a montar sua própria revistinha. Meus caros, vocês tem a minha admiração. Como eu não tenho tempo, paciência, capacidade e nem saúde para fazer como eles, vou apenas apresentar uma marca de roupa que já me quebrou muitos galhos na hora de desenhar uniformes escolares: Ivy Club!

Desde que eu comecei a desenhar no estilo mangá, sempre fui louca pelos uniformes escolares japoneses. Quem lê shoujo mangá já deve ter visto pelo menos mais de dois ou três tipos de uniformes diferentes. Eles são graciosos e parecem combinar com o romance! XD Mesmo vivendo no Brasil, escrevendo histórias que se passam no Rio de Janeiro, não me importo em colocar todo mundo para usar gravatinha e sainhas xadrez. E daí que aqui não se usa isso? Eu gosto demais dos meus personagens para submetê-los aos uniformes xexelentos da Prefeitura do Rio! A história é minha, coloco geral pra usar o que eu quiser! XD E quem não concordar, pode deixar sua reclamação na caixinha “reclamações” ou nos comentários. Mas se você é como eu e quer liberdade para fazer como quiser, deseja desenhar seus personagens nos mais fofos e adoráveis uniformes, a Ivy Club chegou pra salvar sua vida.


Ivy Club é uma marca de roupas coreana, especializada em uniformes. A empresa fornece o vestuário de vários doramas coreanos e pode ser a resposta para aquele bloqueio criativo na hora de vestir a sua heroína.  As linhas são muito variadas, em várias cores e tem para meninas e meninos. Se você der aquela busca básica no profeta Google, vai descobrir muitas imagens de grandes estrelas do cenário k-pop em propagandas da marca. Wonder Girls e Super Junior são alguns deles. O site da empresa é http://www.ivyclub.com/, mas está todo em coreano. Se você não domina o idioma, assim como eu, veja só as fotos e as simpaticíssimas animações em flash. 


Não preciso dizer que copiar descaradamente o corte de um dos uniformes pode ser complicado e até considerado plágio. É apenas para usar como base. Olhar e fazer o seu. Só de trocar uma saia xadrez por outra lisa, já vai evitar problemas. Eu me confundo muito com o que é considerado plágio e o que não é. Desenhar é usar referências, seja cenário, roupa ou pose. O problema é de onde isso vem. Uma pose tirada de um mangá é plágio sim, mas de uma foto que não seja um ensaio de moda, por exemplo, mas de uma pessoa na rua, não. Se você tira a foto não é plágio, assim como usar um cartão postal ou foto de lugar muito manjado, como o Cristo Redentor. Eu precisei de uma referência de um cenário e mandei uma mensagem para o fotógrafo pedindo autorização para usar sua foto em um desenho. Ele permitiu e pude fazer meu mangá. Caso você tenha acesso a livros de referências (muito comuns no Japão, ou você acha que os mangakás tiram ruas, casa, prédios e objetos da cabeça?), pode usar sem medo, eles servem pra isso mesmo. O mais recomendável é ter muitas fotos que você mesmo tirou. No caso de roupas, usar catálogos de lojas é tranquilo, mas usar roupas de marcas pode dar problema. O ideal é usar um pouco da sua criatividade e acrescentar e tirar coisas das referências e acabar criando algo seu. Eu costumo fazer isso, porque é muito difícil criar do nada. Ter referências sempre dará um ar “profissional” ao seu trabalho.
Essas duas são minhas personagens Nicoletta e DeeAnn. Elas estão usando uniformes baseados em alguns da Ivy Club. Mudei a gravatinha e usei coisas de outra linha. É um desenho de teste, no fim nem fiquei com esse uniforme, mas foi divertido desenhá-las assim! 

Ah, eu realmente adoro desenhar esses uniformes... XD