quinta-feira, 17 de maio de 2012

O drama do fanzineiro


Oi moçada bonita!

Outro dia no twitter fiquei sabendo que o Anime Friends taí na porta e não demora a chegar. Eu gostava de ir nesses eventos, não vou mentir. Principalmente para comprar coisas com descontos. Mas nos últimos anos não tenho ido a nenhum. Falta de tempo, grana e acho que a minha paciência anda se esgotando. Tá pra nascer lugar onde você seja mais maltratado que em evento de animê. Staff mal educado, música altíssima, comida cara e escassa e sempre os piores lugares para ajeitar todo mundo. Mas se existe uma categoria que apanha há anos em eventos são os fanzineiros. Nem judas em sábado de aleluia recebe tanto carinho... 

 Na minha época o que bombava era Naruto nos eventos. E hoje? Nem sei...

No distante passado, ser fanzineiro era algo legal. Você tinha um certo status, uma moral. “Porra, eu desenho e crio minhas histórias!”. Mesmo mal desenhado e copiado de Cavaleiros do Zodíaco até dizer chega, você era mais que um fã. Você era alguém que produzia. Vender pela internet não funcionava, tinha que ir aos eventos, mesmo aqueles bem chulé. A estrutura era muito fraca, uma mesa ou cadeira para expor o seu material. Mas pelo menos tinha algum respeito, sabe? Você era parte do evento, parte das atrações, as pessoas vinham olhar, comprar, falar que seu personagem era a cara da Ryoko. Mas e hoje? O que é o fanzineiro?
 Você vai nos eventos pra quê exatamente? Eu vou pra comprar e compro nada.

O último evento que fui vender fanzines faz tempo. Foi num Anime Friends e ganhamos mesa e pôster. O local não era de todo ruim, acho que nos colocaram em um lugar estratégico, pois para chegar até outro espaço tinha que passar por nós. Depois desse ano, parei com zines e ao longo dos seguintes só fiquei sabendo das reclamações do pessoal. No último AF que fui apenas como fã, o local para zines era escondido e o número de artistas bem menor. Para chegar aos fanzines tinha que subir escadas e mais escadas. Não era mesmo um espaço visível e isso é a morte para os amadores. Quem vai lá comprar material amador por 5 reais se aquele chaveiro do Fullmetal Alchemist tá te namorando ali no térreo? Quando conseguir subir, já deixou os olhos da cara na barraquinha de piratarias!

Comiket no Japão é igual a ufologia: você vê as fotos, mas ainda assim não acredita. 

Quando vi que o site do AF estava no ar, dei uma olhada na parte de zines e descobri que o fanzineiro paga uma taxa, mas entra de graça. O ajudante paga uma taxa menor, mas parece que tem que pagar ingresso (é isso mesmo, produção?). Agora, queridos, pensem comigo: o ajudante que vai ao AF está lá pra curtir o evento ou ficar no lugar do fanzineiro enquanto ele vai ao banheiro ou come alguma coisa? “Mas tem muita gente que abusa, sabe? Vai pra curtir o evento!”. A sensação que me dá é que quem faz essas regras nunca foi fanzineiro. Ficar lá almejando que alguém veja e compre o seu trabalho, num lugar que deve ser bem ruim, é muito cansativo. É FUNDAMENTAL alguém pra te ajudar! Ambos deveriam entrar de graça, ou pelo menos o ajudante pagar um ingresso mais barato.  

 A qualidade dos fanzines japoneses não é só no desenho: olha o capricho das revistas! Agora imagina quanto não sai um acabamento desses no Brasil?
E aquela regra de que mesmo que o fanzine esgote você tem que ficar na mesa? Que diabo é isso? Eu levo minha tiragem, ela esgota e eu não posso sair? É uma punição? “Mas aí a pessoa leva 5 exemplares, vende e sai aproveitando o evento de graça....” Gente, pelo amor de Deus! Vamos estipular a tiragem mínima, mas manter a pessoa presa ali, a impedindo de circular de graça é ridículo. Acho que o pessoal desses eventos deve achar que fanzine se faz sozinho, que sai no 0800. O custo de um fanzine dentro de uma tiragem de 50 exemplares vai sair bem mais caro que um ingresso. Acho muito difícil que alguém produza um zine para entrar de graça no AF! Estão notando a lógica louca disso tudo? Que culpa tem a pessoa se o fanzine dela foi um sucesso e esgotar? Parece até que esses 15 fanzineiros vão levar o evento à falência...

 A coragem (e a cara de pau) dos cosplayers ainda é o must dos eventos...

Quem fazia fanzines na minha época (e acredito que ainda seja assim) fazia por amor. Amor ao mangá, aos seus personagens, aos personagens dos outros. Eu estava ali tentando vender minhas ideias, meu desenho, fazer amigos, ver as pessoas lendo meu material. Essa vida de amador-fanzineiro-batalhador é muito sacrificante. Você gasta dinheiro, vira noites desenhando, montando no computador e quando vai vender corre o sério risco de ser tratado como alguém que só quer entrar de graça. Te jogam num canto qualquer sem a menor cerimônia. E depois ainda falam que o pessoal não quer produzir, que o mangá está em decadência...

Quem ainda tem paciência pra esse tipo de coisa?   

16 comentários:

Roberta Pares Massensini disse...

Eventos fui a poucos, e me mantive nesse habitaculo, dos fanzines. Participei de alguns, mas eu ia mesmo era pra ver o pessoal, era uma alegria conhecer o povo e ve-los desenhando. Comprava os fanzines que podia, pois o ingresso era caro pra burro, e eu levava a minha irmã. E tinha o dinheiro do onibus(morar em outra cidade e nem ter horario era fogo), do metro e de algum tira gosto mais em conta. Ficava horas na fila pra entrar e outras duas lá dentro, depois bora correr voltar. Mas do jeito que é hoje não dá mais vontade de ir ou participar... o ultimo que fui foi o que conheci você e sua irmã^^ E fiquei muito feliz por isso e por comprar o zine de voces. Pena que não valorizem esse trabalho, tamanha a dificuldade que se tem...hoje, nem por amor mesmo...Abraço

Mauricio disse...

Pergunta incômoda: ainda existe fanzineiro? Daqueles que realmente imprime e vende seu material?
Também não vou mais em eventos, mas desde o primeiro Animecon, nunca vi os fanzines terem o destaque merecido.
Criar um mercado consumidor e principalmente produtor de HQ nacional passa necessariamente por fanzine.
Depois ainda se discute porque o manga nacional não decola.

B-Tanuki disse...

Fiz grandes amigos através dos fanzines. Há vários anos atrás.

No Anime Friends houve uma época m que o fanzineiro era tratado com respeito.
A Fanzine Expo lembrava - na medida do possível - uma Comic Market. Visto que era permitodo o comércio de miudezas produzidas pelos fanzineiros. Eles compreendiam que o fanzine não se sustentava sozinho e que a venda de chaveirinhos e outras coisinhas com a arte do fanzineiro ajudavam bastante no custo do estande (que pra quem é do Rio como eu, não se resume a pegar o metrô e comer um joelho com refresco).

Hoje eles também entendem que um fanzine não se sustenta sozinho (tá escrito no site), mas dane-se. Você não pode competir com as pessoas que pagam pra mais de 5mil reais nos estandes!

Sim, como se não bastasse a falta de respeito, o fanzineiro passou a ser observado com desconfiança e tratado como uma ameaça aos estandes de piratarias e produtos chineses inflacionados!

Hoje já não produzo mais fanzines. Uma pena. Foi uma época que curti demais. Sentia muito prazer em desenhar, escrever...
Mas parece que ser fanzineiro já deu.
Na verdade, o próprio Anime Friends meio que está comprovando que ir a evento também já deu, visto a política desse ano!

Legal o texto... bom encontrar um igual pelo meio da internet!

Monique Novaes disse...

Puxa,legal enccontrar aqui o pessoal que viveu esse momento dos fanzines nos eventos, também fui fanzineira e curtia muito fazer, mas como os demais aqui tive de parar e seguir com a vida. Tá certo que lá nos primeiros AnimeCons e Friends havia um certo prestígiozinho e mais espaço, mas isso desapareceu com o tempo, e hoje, como o Maurício disse, cadê os fanzines?

Faz anos que não vou nesses eventos e já naquela época era difícil encontrar as mesinhas dos fanzines, estavam escondidas no meio de tantas outras coisas. infelizmente, para quem quer ser quadrinista, o fanzine deixou de ser uma etapa do seu amadurecimento como artista, pois não há como crescer sem expôr o trabalho para que os interessados vejam, e nesses eventos, não dá mais. Bons tempos aqueles dos primeiros eventos de anime...

Monique Novaes disse...

Ops, queria dizer quadrinhista, ignore os demais erros de digitação, gomen. >_<!

Monique Novaes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tabby Kink disse...

Oi Roberta!

Também tinhamos muitas dificuldade, não só financeiras, para ir aos eventos. Mas mesmo assim, íamos vender nosso material. Hoje em dia é praticamente impossível a volta desses tempos...
Ainda tenho a foto que tiramos juntas! Foi o evento mais divertido que fui...

Tabby Kink disse...

Pois é Mauricio, cadê o povo? Acredito que uma série de fatores levou a diminuição dos materiais impressos. Além da grana, a falta de respeito nos eventos, a concorrência... também acho que o fanzine é importante. O cara a cara com o consumidor ajuda o artista a crescer. Mas a saída é publicar on line mesmo, mas nunca desistir!

Tabby Kink disse...

Oi B-Tanuki! Obrigada pelo elogio! É ótimo encontrar quem viveu essa experiência! Talvez a gente tenha se encontrado nesses eventos sem saber! XD

Também não entendo o porquê de proibirem a venda dessas muidezas pelos fanzineiros. Como se fosse fazer muita diferença para os estandes piratas. Mais uma forma de restringir o fanzineiro e dificultar a produção.
Os eventos de hoje estão excluindo de forma clara os desenhistas amadores. Isso é muito, muito triste. Também desisti de fanzines faz tempo, embora gostasse muito mesmo de fazê-los e vendê-los. Uma pena que essa nova leva de fãs não viveu essa fase...

Tabby Kink disse...

Oi Monique! O pequeno prestígio que a gente tinha se evaporou com o tempo. Hoje os zineiros são vistos como encrenca e perda de dinheiro para os organizadores. Só podemos lamentar. Não vejo como virar essa mesa, sinceramente.

Mari disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mari disse...

Hoje em dia pra fazer Zine e melhor ganhar fama no deviantart e vender online. Fico triste que não aproveitei o dia que tinha o Studio Zoo(com seus chaveirinhos, marcadores, agendas, cardeninhos...Aiiii era tudo tão fofo)e não comprei nada. Acredito que fanzineiro tem que fazer miudeza sim!!! Mesmo com personagens originais(vide o Teahouse, que é uma comic online, o quanto de bottons, adesivos e afins eles vendem!!!) ele compreende de uma venda grande, e como dito, não tem lá muita diferença com os estandes piratas e super-faturados.

Raquel Sumeragi disse...

Muito do que mencionou foi o que me motivou a sair das feiras a anos atrás... se o evento não dá suporte... pra que ficar, né? : /

Valdarko disse...

O unico evento que eu vi uma "preocupaçao" com os fanzines foi no anime rio pocket, lembro que era um evento gratuito que rolou faz uns anos e foi bem legal. A surpresa foi ver que tem pessoas fazendo trabalho pra midia impressa, é uma pena que o lugar onde esses desenhistas/roteiristas teriam uma chance de divulgaçao boa sao organizados por pessoas que tem uma cabeça de caqui.

Renan Amaral disse...

Sou novo no mercado de zines (comecei tarde pra dizer a verdade).

E estava empolgado em começar a imprimir e vender nos eventos.


A minha primeira decepção foi no custo de impressão. Para ter uma revista em um custo competitivo com o de um profissional, seria necessário um investimento gigantesco, e ainda assim corre o risco de não vender.

Mas isso faz parte, a vida funciona à base de riscos, foi aí que encontrei o segundo problema...

Descobri que vender em eventos era necessário pagar a taxa (mencionada no post), que não era baixa não! E ainda estar sujeito à pouca visibilidade.

Entrar com vários volumes na mochila e vender no boba-a-boca é proibido, então o evento se tornou uma situação perde-ou-perde para quadinhistas.


Nunca fui em eventos de anime, mas essa falta de respeito me desmotivou completamente.

Tabby Kink disse...

Os eventos eram ótimos pra divulgar, mas tudo piorou muito com o tempo. A organização é cada dia mais mercenária e te vê como um aproveitador e não mais parte da atração.
Por essas e outras (principalmente $$$), estou voltada para o trabalho on line mesmo. Acredito que é a saída para os artistas independentes...