Sinceramente eu não achei que um dia voltaria a escrever no
blog. Nossa última atualização foi em 14 de dezembro de 2012! Quase dois anos
sem nada de novo por aqui. Pensava em retomar, comentar algo que vi ou li, mas
logo o desânimo batia e eu desistia. Com o tempo eu fui me dando conta que a
única coisa que se mantinha vivo em mim era justamente o maldito desânimo. Não apenas
com o blog. Mas com meu desenho. Foi por pouco que eu não joguei a toalha.
Não sei se vocês já se sentiram assim, desanimados, sem
perspectiva em relação a algo. Aquilo é importante para você, mas a falta de
motivação te aleija de uma forma que é complicado continuar. Pensei muito nos
motivos que me levaram a tamanho desânimo e acho que ainda não cheguei a uma
conclusão concreta.
Poderia ser a frustração de como arte é tratada no Brasil? Quantos
de nós, desenhistas e ilustradores, já nos deparamos com um muro diante dos
olhos. De um lado a falta de incentivo, o mercado mambembe, a matilha de
críticos, a falta de apoio. Do outro a vida que cobra sua parte, a faculdade, o
trabalho, a família, os problemas. Infelizmente são poucos os casos de
profissionais brasileiros de quadrinhos que vivem de sua arte. Então temos que
colocar na balança o que o desenho representa para nós e se é possível
continuar equilibrando pratos dia após dia.
Desde que comecei a desenhar, nunca tive dúvidas. Não que eu
fosse cheia de certezas quanto ao meu “talento” ou quanto a resultados
financeiros, mas eu nunca hesitei. Nunca pensei em desistir. Por mais difícil
que fosse, por mais penoso, por mais cansativo, sempre havia algo dentro de mim
que me empurrava, me colocava diante de um papel em branco. Mas recentemente eu
senti essa força fraquejando em mim. E por mais que isso me doesse, não
conseguia ir adiante. Comecei a me dedicar aos estudos para prestar concursos,
comecei a me dedicar mais ao design, a trabalhar com imagens e fotos, a
explorar outras coisas. Passei muito mais tempo com minha outra paixão (os
filmes de bollywood) que me fazia esquecer uma boa fatia de meus problemas
profissionais e pessoais e simplesmente deixava o barco correr.
Não sei exatamente quando ou como foi ou se teve algum
momento em particular que algo em mim mudou novamente. Mas aconteceu. Acho que
me dei conta que antes de tudo amo contar histórias. E a forma que encontrei de
realiza-las foi com o mangá. Conjugar desenho e história de um jeito
especial pelo qual sou apaixonada. Comecei a perceber que me sentia doente sem
meu desenho, sem colocar tudo na folha, sem usar as retículas, sem colocar as
falas nos balões. Eu estava cansada, frustrada, não enxergando luz no fim do
túnel, com todos os motivos para desistir, mas simplesmente não conseguia. Não consigo.
Então só havia duas opções diante de mim: desapegar ou continuar. E escolhi
continuar.

Quem é meu amigo deve saber quem é Shahrukh Khan, mas quem
não conhece, ele é um ator indiano, chamado "rei de bollywood" e uma das
pessoas mais bem sucedidas que você poderia imaginar. Ele é uma aberração, pois
em situação normal jamais faria sucesso no cinema da Índia. Perguntaram para
ele qual o segredo do sucesso. Imagino que ele deve ter respondido essa
pergunta centenas de vezes, mas a resposta que eu li, que caiu no meu colo,
foi: “Deixar de fora o negativo; não competir, mas participar e rezar também.”
Ser otimista e confiante é o desafio da minha vida. E “não competir, mas
participar” parece algo tão absurdo nesse mundo competitivo, de tão poucas
oportunidades, mas interpretei como: fazer algo para acrescentar e não esperando
que o universo te dê alguma coisa em troca. Mas a arte não é isso? Dar a sua
contribuição? Eu percebi que desenhar minha história é contribuir, participar,
acrescentar ao processo. Boa ou ruim, divertida ou sem graça, ela é a minha
parte, minha contribuição, minha participação. E sem esperar nada em troca. Fazer,
talvez pela primeira vez em minha vida, algo por mim mesma. Acho que tudo fez
tanto sentido para mim que de alguma forma Shanrukh Khan entrou na minha vida para me
deixar esse ensinamento.
Resumindo tudo isso, quero dizer que não pretendo deixar a
peteca cair. Não quis dizer ali em cima que artistas devem trabalhar de graça,
nada disso, por favor. Estou falando de algo mais profundo, de alguém que está
reencontrando uma motivação, uma força de continuar que pensou estar perdida. Eu
não sou a melhor desenhista, nem tenho os melhores contatos, nem a melhor saúde
do mundo, mas eu tenho muito, muito amor pelo que faço. E nada, nada neste
mundo paga a satisfação de ver uma página prontinha, com retículas e balões,
tudo feito por mim. E enquanto esse sentimento for maior que tudo, não pretendo
desistir.